domingo, 9 de maio de 2010

Conforto...

Me lembro de épocas a alguns anos atrás. Era mais fácil viver e conviver com as coisas. Havia muuuitas coisas que eu não tinha mas eu não me importava em não te-las porque elas raramente me eram oferecidas, e, quando eram, não estavam envoltas em promessas mirabolantes. Ou seja: do que os olhos não vem a mente não sente falta. Era confortável. Eu me sentia bem assim. Era uma solidão confortável, aconchegante. Eu me lembro que as melhores épocas eram como a de agora, outono; quando os dias são meio amarelados e está frio. Eu era o único que gostava do frio e do amarelo dos dias, das árvores sem folhas ou então com as folhas amarronzadas. Enfim, essas coisas. Eu vestia um blusa de frio e uma touca e saia pela rua, andando e olhando as pessoas. O mundo. Tinha milhões de ideias, medos, de sonhos, de desejos. E eu compartilhava todos comigo mesmo. Isso me bastava, porque, afinal nunca me tinha sido oferecido mais que isso. O que eu tinha até então era o suficiente e eu estava bem assim. Até que um dia. Na escola. Ela apareceu, da mesma altura que eu. Cabelo até o meio das costas, roupas coloridas e olhos puxados; e tudo se estragou.
Minha fortaleza indestrutível foi destruida. "Nada é tão cruel como uma criança
Às vezes nós quebramos o inquebrável, às vezes?"
Mais um havia tido seu conforto roubado. (Em troca do que no fim veio a ser o nada.) Os anos se passaram. Cinco anos. Até que eu me livrasse das memórias daquilo que nunca existiu e meu conforto e minha proteção voltassem (Sempre em épocas frias de outono ou inverno. É quando eu me sinto mais forte.) Mais duas vezes a concha viria a ser quebrada... Mas seriam as últimas. Foram.

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