terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Última página do meu livro...


"Longe do fim do mundo" (O livro).


- Um sonho de liberdade -
Capítulo 11.

(Penúltima e última páginas)







Aos poucos eu comçava a recobrar os sentidos, mas ainda assim, em meio a um certo torpor; que foi interrompido por uma dor aguda, lancinate, em meu braço esquerdo assim que tomei consciência dele, e tentei movimenta-lo. Um erro que eu tomaria todo o cuidado para não cometer novamente ja que a dor quase me tirou os sentidos outra vez, embora eu estivesse a ponto de agradecer por ela. De certa forma era tentador fazer outro movimento brusco com o braço ferido, para que a dor testemunhasse que eu de fato estava vivo. Mas, considerei que seria melhor não me auto inflingir mais dor e correr o risco de perder novamente a consciência. Embora eu ainda não me desse conta disso, os momentos que viriam a seguir exigiriam cada fio de minha cosnciência. Ainda de olhos fechados, comecei a atinar para as outras partes de meu corpo além de meu braço mais evidentemente ferido. Meus músculos foram voltando a responder, um a um, como lâmpadas que se reacendem aos poucos após um blackout. Agora, de uma forma que nunca desejei, comecei a tomar consciencia de quão minuscioso era meu corpo, ja que, em cada músulo; cada fibra, e em cada fribra cada célula parecia responder aos comandos de me enviar dor. Meu tato embora prejudicado, me informou que havia algo tocando em meu braço são. A essa altura eu ja estava suficientemente lúcido para identificar uma mão acariciando de leve um de meus braços. Reuni toda a coragem que me restava e abri os olhos, mesmo à luz fraca eu pude ver que era Aurora quem estava ao meu lado. Os olhos dela se arregalaram e os lábios se curvaram para baixo numa expressão que era um mix de perplexidade e alegria, como uma criança que ganha um presente maior e melhor do que esperava. Eu adorava ver aquela expressão no rosto de Aurora, nestes momentos eu podia claramente enxergar o interior dela, as certezas, as dúvidas, as inseguranças e os sonhos, através dos olhos que se tornavam janelas, inexplicávelmente, àquilo a deixava ainda mais bonita.
Naquele momento eu pude ouvir o que ela pensava: Nunca mais me dê um susto desse, Adam!
-Ta bem, eu prometo que vou tentar! - Respondi. Ela corou, provavelmente se esqueceu que eu podia ver pessoas mortas, e ocasionalmente ler um ou outro pensamento.
-Dessa vez eu realmente pensei que...
-Credo! Você estava me velando? - Interrompi.
Por anos eu de certa forma busquei a morte, e agora que eu a tinha sentido tão perto a idéia me deu arrepios.
-Seria bom se você começasse a deixar que as pessoas falassem ao invés de forçar um monólogo! - Ela sorriu, anulando a bronca.
- Mesmo que você não fale eu ainda sei o que você quer dizer... E se eu te respondo deixa de ser um monólogo! - Eu disse. Enquanto erguia o dedo para tocar a têmpora de Aurora.
Um erro grave que quase me fez soltar um grito de dor. -Bem feito! - Disse ela, mas seu olhar de preocupação invalidara outra bronca.
A nossa pequena "discussão" nos distraira inicialmente para os acontecimentos à nossa volta.
A temperatura no porão parecia amenizar-se, o frio havia passado, mas não fora subistituído por calor. Era uma sesação aconchegante muito diferente do frio, mas não chegava a ser cálida, era como a sensação de não se ter sensação. Como perder o tato e ainda assim sentir o toque de todas as coisas no mundo. A medida que a temperatura se alterava, também se alterava a visão e os sons. O velho porão da Greenvalley School, agora parecia ter outra aparencia, como se houvesse sido iluminado, mesmo com a ausência quase total de luz. As formas e detalhes antigos dos velhos pilares pareciam mais imponentes de alguma forma assim como todos os outros traços da construção. Tudo parecia etéreo e ao mesmo tempo vívido e claro. Os sons eram mais do que apenas o ar vibrando no espaço, eles pareciam preencher cada espaço, cada reentrância de minha mente, como se cada som fosse feito especialmente para que meus ouvidos escutassem. Parecia ser um momento reservado para que tudo aquilo acontecesse, como se o tempo houvesse parado. Um espaço no tempo no qual só nós existiamos e do qual só nós nos davamos conta, uma vigésima quinta hora.
A dor foi repentinamente aplacada, de modo que me apoiando em Aurora, eu pude me levantar.
Ali, bem à nossa frente estava a figura frondosa do homem velho, de barba e cabelos curtos e ambos prateados, e olhos profundos e analíticos nos observando, era o mesmo homem, o mesmo Alexander Hartmann, o mesmo que eu vira à quase quatro meses atrás ao lado de Samnatha, num dos bancos ao lado das árvores na rua Meadow, Trajava as mesma roupas que eram do início do século IXX, porém, agora pareciam mais nobres, e ele mais dígno de vesti-las.
De súbito, mas não inesperadamente ele se dirigiu à nós, com sua voz rouca e convidativa.
-Eu receio te-los causado muitos inconvenientes devido às arestas que deixei antes de "desencarnar" como vocês apreciam dizer. - Ele fez uma pausa e deliberou por um instante. - Eu creio que nossa "amiga" deseja que eu à acompanhe. - Ele indicou com os olhos, algo que estava à nossas costas. Era Cassidy, ou melhor... Era ela, a morte, em carne e osso. (Mesmo áquela altura das coisas eu ainda não havia me acostumado com a ideia de que a morte se disfarçasse, e que mais do que isso se "vestisse" no corpo de uma garota de vinte e dois anos, e tão pouco a chamá-la pelo nome da garota.). Eu me virei e à olhei nos olhos, eu sabia que não eram de fato os olhos dela, que a garota era apenas um receptáculo, mas eu tinha que olhar nos olhos dela.
-Por muito tempo você procurou por mim. - Disse ela. Agora ela imprimia à voz da garota cujo corpo ela usava, um pouco de sua própria voz, que, estranhamente era muito atraente, como se me convidasse a segui-la. Aurora sentiu meu sobressalto e apertou a mão em volta do meu braço.
-Mas, terá que esperar mais... Até quando? - Indagou ela á sí mesma. - Confesso que não sei até quando, embora eu saiba muito, e saiba muito do futuro das criaturas que caminham sob esta terra, o seu futuro me é incerto, Andam van der Barkksen.
Eu sorri para ela, não como sorrira para Aurora, de modo mais debochado, embora meus olhos delatassem meus reais pensamentos.
- É, pelo jeito nossos encontros não tem sido muito proveitosos.
-Você se engana se pensa dessa forma, nossos encontros tem sido... Com o perdão do trocadilho... Vitais para você, Adam.
Aurora fitou Cassidy (ou a morte) por um instante que pareceu muito longo para mim. Me dava socos no estômago a ideia de ver Aurora próxima à Cass.
-É da natureza humana procurar por mim quando as coisas se tornam insuportáveis, ou parecem sem sentido, sem porque. Mas ao contrário dos outros todos que me procuraram antes que eu os procurasse... Ao contrário deles, foi justamente em sua busca por mim que você descobriu motivos para continuar a viver.
-É, você vai ter que suar muito antes de conseguir me pegar! - Eu disse. Embora soubesse muito bem que ela não era alguém, ou algo do qual se pudesse debochar.
A figura de Alexander ainda nos fitava, austera como eu ja mais tinha visto.
Agora, repentinamente eu comecei a entender o que acontecia ali. Porque ela ainda não conduzira o espírito de Alexander para o outro lado. Ela queria ter aquela conversa comigo.
-Adam, eu creio que você saiba que eu não sou um castigo, nem um demônio ou qualquer coisa do tipo, eu sou apenas um braço da natureza, da natureza frágil e finita de tudo aquilo que tem vida.
Aurora segurou meu rosto e olhou em meus olhos com uma certo pesar, porque embora ela não partilhasse desse meu dom em especial, ela sabia tão bem quanto eu quais seriam as próximas palavras de Cass.
-Eu sei que você tem grandes ressentimentos comigo por ter levado Tess, mas não poderia ter sido de outro jeito.
Pela primeira vez em muito tempo eu pude sentir minha expressão sempre firme e alegre ruir, como um muro atingido por um carro em alta velocidade. Cass presseguiu. - Eu sei que você ainda sentia precisar dela, mas era necessário leva-la embora tenha parecido um castigo, assim como muitas das coisas necessárias parecem castigos. Por fim, eu espero que entenda que assim como vocês, seres humanos, se sentem sós em algumas missões que a vida lhes relega, eu também me sinto absolutamente só em minha missão.
-Eu confesso que gostaria de conseguir odia-la, de verdade, mas... Eu acho que...
-Eu sei. Você entende a minha importâcnia assim como eu entendo a sua.
-Eu creio que as palavras dela sejam suficientes, qualquer adendo de minha parte seria fora de propósito, apenas um Obrgado! e um adeus, apenas isso...
Talvez eu esperasse que o teto se desvanecesse em feixes de luz e Cass e Alexander fossem sugados para cima. Mas não foi assim que aconteceu, eles apenas deixaram de estar lá assim que pisquei.
Aos poucos a atmosfera do porão foi voltando ao clima mundano e frio do sul da inglaterra. A dor por sua vez não voltara, talvez um pequeno agradecimento de Cass, pelos serviços por mim prestados. Agora só havia Aurora e eu.
A dor no braço se fora, mas o cansaço não. Eu me deixei desabar de olhos fechados sobre o chão forrado de livros antigos e raros do acervo da escola.
-Adam! Meu Deus! Adam, fale comigo? Fale comigo? ADAM!!!
Após alguns segundos eu abri os olhos e mostrei a lingua para ela.
-Aha! Onde está aquele bem feito agora?
Ela ergueu a sobrancelha e torceu os lábios, no prenúncio de mais uma bronca. Eu usei o último resquicio de força que tinha para me erguer e beija-la. Eu não podia ver, mas sabia que seus olhos estavam arregalados, naquela expressão que tanto gosto. Depois seus traços se suavisaram.
-Adam, da próxima vez que você fizer isso eu juro que...
-"Te, mato".- Completei. - Aurora, será que não podemos esquecer esse negócio de morte por enquanto?
-Claro... Ainda não sabemos onde estão Samantha e Bryan, e é com eles que devemos nos preocupar...
Eu coloquei o dedo indicador nos lábios dela.
-Não vamos nos preocupar com isso por enquanto. - Disse eu sorrindo. - Eles não vão voltar tão cedo. Mas quando voltarem nós saberemos.
-Vai ser difícil ficar tranquila sabendo que eles podem voltar a qualquer momento, em qualquer lugar.
-E nós vamos ter que lidar com isso. - Eu fiz uma pausa para olhar outra vez nos olhos dela. - Mas por enquanto vamos deixar isso para lá. Hoje a morte me fez ver o quanto a vida pode ser boa. Eu segurei seu rosto e a bejei novamente.

11 comentários:

  1. Caracass André, arrasou nas ultimas páginas do seu livro hein.
    Publica publica publica!!!

    Ok, eu sei que não li as paginas anteriores, mas deu para perceber que a história é mara.

    Mto bom mesmo, parabéns!

    Abç

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  2. realmente esse tem talento!
    consegue captar detalhes internos que muitas vezes os escritores deixam passar... oO
    quero ler o livro inteiro!

    xD

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  3. Cara voce tem furuto... é incrivel consegue captar cada detalhes sem deixar escapar nada.

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  4. Antes de mais nada devo confessar que não sou um bom leitor. O que eu sei fazer é uma identificar coisas que me agregam valor, sei que tendo esse livro publicado gostaria de saber, tenho certeza de que esse seria o quarto livro que eu leria do início ao fim com todo o prazer.

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  5. oi...achei que já hava comentado
    bom adorei a forma a qual tu escreves, você domina bem as palavras e prende a atenção das pessoas isso é muito bom
    me convide para a tarde de autógrafo

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  6. Não conhecia esse lado teu!
    Estou impressionada, guri...
    Muito bom mesmo....é um tipo de estória que envolve totalmente...parabéns!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  7. DOIDOO , CARA VOCÊ É COMPLETAMENTE DOIDO ! KKKKKKKKKKKKKKKKKKKK ...
    BY: PURISHIRA!

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  8. Nooossa q lindo super Rômantico, Mto Romance arrasou =D
    Mto muito Bom msmo

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  9. Muito legal, André!

    "Um espaço no tempo no qual só nós existiamos e do qual só nós nos davamos conta, uma vigésima quinta hora."

    Muito perfeito!

    Amei imensamente!

    Parabéns, André!

    beeijo*

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