segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Ainda existe isso!


Por William Cardoso (Jornal da tarde)


O muro da Escola Municipal de Ensino Infantil (Emei) Guia Lopes, no Limão, na zona norte de São Paulo, foi pichado durante o fim de semana com a frase “vamos cuidar do futuro de nossas crianças brancas”, acompanhada da suástica nazista. Para a diretora do colégio, Cibele Racy, foi uma reação às ações pela igualdade racial.
A Emei tem 430 alunos, de 4 a 6 anos, divididos em classes do ensino infantil 1 e 2. Durante este ano, as questões raciais têm sido discutidas com as crianças, como parte do projeto pedagógico. A festa junina, por exemplo, teve motivos afro-brasileiros. “Foi um sucesso total. Trouxemos comidas e aspectos culturais da África. Tenho vários depoimentos de pais mostrando toda a aceitação”, diz.
Segundo a diretora, apesar de bem-recebido, o projeto pode ter despertado reações negativas. “Essa pichação teve um endereço certo. Não foi aleatória. Mexemos numa ferida muito profunda e eu estava até preparada para alguma reação, mas não dessa maneira.”
A diretora diz ter ficado surpresa com a manifestação racista. “A escola foi aberta ontem (domingo) para a eleição do conselho tutelar. Quando fui embora, por volta das 19h, passei pelo muro lateral e vi o que estava escrito. Fiquei espantada. Hoje pela manhã já chamei os professores para discutirmos o que seria feito.”
Cibele pretende registrar um boletim de ocorrência ainda hoje, mas não só isso. Pretende convidar os pais de alunos para um bate-papo com integrantes de movimentos pela diversidade racial, durante uma reunião pedagógica no período noturno, no dia 10.
Além disso, os alunos serão convidados a remover dos muro os símbolos de intolerância, mas de uma forma divertida. “Vamos dizer que sujaram a escola e que precisamos dar um jeito naquilo. As crianças estarão livres para pintar o que desejarem. É uma forma de eliminar completamente essa marca lamentável. O que merece publicidade é o que tem sido feito de positivo aqui.”
Todos os anos, em novembro, o colégio faz uma passeata temática do lado de fora dos muros. A diretora diz que, no próximo mês, a igualdade racial será o tema da manifestação.
Professora de psicologia da educação da Universidade de São Paulo (USP) Silvia Colello diz que o projeto surtiu efeito, daí a reação. “Foi tão eficiente que as vozes contrárias não conseguiram se calar.”
Silvia diz também que apagar o muro com o desenho das crianças é algo positivo. “A diretora está dizendo que vai responder de forma pacífica, lutando pela igualdade. Vamos cobrir as marcas da violência com nossa mensagem, com desenhos, com o que temos a dizer.”
Segundo a professora, na faixa etária dos alunos da Guia Lopes ainda não há manifestação de racismo. “A criança pequena que é branca brinca com a negra sem problema. A discriminação é algo socialmente adquirido.”
A partir do momento em que for registrado o boletim de ocorrência, o caso deverá ser investigado pela polícia.





Um comentário:

  1. Infelizmente, existe. E felizmente, não deixamos de lutar contra isso.
    A diretora está de parabéns.

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