segunda-feira, 2 de maio de 2011

O demônio o e sábio

O homem caminhava por uma velha estrada de paralilepípedos - prestes a completar seu centésimo aniversário - ele voltava de uma de suas viagens, comuns naqueles tempos antigos quando as pessoas viviam mais e mais fortes, provavelmente a última. O tempo já não era mais uma paisagem tão vasta, a diante, e a dureza dos anos que se foram pesava sobre seus ombros; assim como os dias e meses de sonhos e sorrisos e a sabedoria tão espontânea que a da de presente àqueles que sabem onde procurar, resvalavam nos cantos de sua mente.
Assim como fazem os verdadeiros sábios, não se vangloriava de seu conhecimento sobre as coisas da vida, passava à frente o que sabia, com a naturalidade de quem ainda aprende mais do que ensina. Vivia numa época em que as viagens eram mais longas e se via o mundo com mais atenção.
Pela primeira vez, desatento, o velho homem voltara a visão para dentro de si mesmo, alheio ao mundo externo.
Quando se deu conta uma figura caminhava ao seu lado.
- Vejo que reflete sobre algo. Me parece importante. - disse o homem jovem ao ancião.
- A vida. Eu penso nela para não me esquecer de quem sou. O agora é um resultado do que se foi antes e uma perspectiva do qu será no futuro. O presente é feito de passado e futuro.
- Mas no seu caso não há tanto futuro pela frente para se ponderar. - disse o homem com um sorriso pernicioso.
- Sei disso, mas vivo com aquilo que tenho. Se o presente é uma realidade e o futuro é uma ilusão, então eu prefiro me ater à realidade.
- Covardia? Ou um truque para não enfrentar a realidade do fim? - alfinetou o homem de aura malígna.
- Não há fim. - respondeu o velho homem, austero.
- É certo que há. Não imagino que um homem possa ter longevidade muito à diante da sua. - replicou o jovem com ar de quem tem um argumento definitivo.
- É simples... Não devo pensar no fim como um tormento. É natural, como respirar. E nada que é natural pode ser ruim ou assustador, verdadeiramente.
- Se soubesso o que sei; se visse o que vejonão estaria tão certo de seu argumento.
- Eu sei mais que muito e menos que muitos que sabem mais, e isso é tão natural quanto morrer ou repirar; um sabe menos e outro mais, mas ninguém sabe tudo. Provavelmente os conhecimentos se completam... Seria peigoso que apenas uma pessoa fosse dona de todo o conhecimento do mundo.
O homem jovem fingiu, com a mão no queixo, ponderar e deliberar sobre algo (que na realidade já pretendia fazer).
- E se eu lhe oferecesse uma troca? - os olhos refulgiam de malícia.
- E qual é o acordo? - perguntou o ancião sem se interessar pelo produto dele, mas sim pela atitude da figura.
- A vida eterna em troca de suas tão prezadas memórias. - sorriu o homem com suas vestes cirurgicamente brancas.
- Não. - disse o ancião sem sequer pensar sobre a proposta.
- Mas que tolice é essa, homem? Recusa a eterna juventude e vitalidade! A possibilidade de ver eras se sucederem, até o crepúsculo do mundo!
- Não é o tempo...
- Insano... Sua mente deve ter sido tomada por uma loucura que até mesmo eu desconheço. - interrompeu furioso.
- Imagine só. - disse o ancião, mais para si mesmo do que para o estranho acompanhante - Se o beijo na mulher amada fosse dado como eterno, se os momentos de alegria ao lado da amigos durassem eternamente... Será que os aproveitaríamos da mesma forma?
O pérfido acompanhante permaneceu em silêncio e o ancião prosseguiu.
- Não é tempo o que realmente importa, mas a intensidade.










- André Walker -

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