quinta-feira, 28 de abril de 2011

E se essa merda for verdade? - O ser humano é capaz de produzir tsunamis e terremotos? Há quem acredite que sim



Que levantem as mãos os leitores especialistas em meio ambiente e a capacidade humana em manipulá-lo diretamente para produzir efeitos catastróficos. Aos eretos, talvez este texto não passe de uma reunião de bobagens descartáveis, bem como para tantos outros fechados na cápsula do ceticismo, contudo, não resta dúvida de que as teorias da conspiração tornam-se cada vez mais fortes e presentes. A da vez, no caso, trata-se de mais uma pergunta que, quando feita isoladamente, remete-nos ao descarte imediato pela insanidade presumida: o Tsunami da Indonésia e o recente terremoto do Japão teriam sido causados propositadamente por poderosos seres humanos?
Sou um leigo, assim como imagino ser a esmagadora maioria dos que, neste momento, absorvem estas palavras, mas é como leigo que escrevo para meus iguais, pensando não na afirmativa absoluta, mas na dúvida que consome quem decidiu colocar a cabeça pra fora do poço do ceticismo: e se for verdade? Fazendo um comparativo cinematográfico, seríamos como Tom Cruise e Dakota Fanning em Guerra dos Mundos que, aos estarem no meio da pipoca estourando, só puderam se apegar ao sábio conselho do mestre ancião: CORRE NEGADA!
Vamos aos fatos, ou melhor, ao fato principal: tudo indica que o ser humano é capaz, sim, de produzir terremotos e tsunamis. Isso fica quase claro após um rápido estudo do tema que vem acalorando os debates dos teóricos da conspiração: a HAARP (High Frequency Active Auroral Research Program), um programa norte-americano que supostamente funciona para “entender, simular e controlar os processos ionosféricos que poderiam mudar o funcionamento das comunicações e sistemas de vigilância”. Para nós, leigos, a HAARP é definida como uma grande máquina capaz de jogar um bilhão de watts sobre a ionosfera terrestre e possivelmente provocar terremotos e tsunamis controlados. Muitos debates envolvem o tema, mas dois fatos são destacáveis: em 2002, o parlamento russo emitiu um comunicado em que dizia que “Os Estados Unidos estão criando novas armas geofísicas que podem influenciar a baixa atmosfera terrestre”, referindo-se ao HAARP e, antes disso, em 1999, o parlamento europeu demonstrou insegurança indicando que o projeto HAARP “manipulava o meio-ambiente com fins militares”. No fim das contas, a única certeza que tenho é a de que espero nunca ter a absoluta certeza de que o HAARP é de fato capaz de produzir tais eventos, ou passarei a andar de fraldas temendo o dia em que encontrarei uma aurora boreal nos céus do meu subúrbio carioca (diz-se que o efeito acontece quando a HAARP é utilizada e vídeos supostamente comprovam o aparecimento de auroras boreais no céu minutos antes do tsunami na Indonésia e o terremoto do Japão).
Outro fato importante a ser ressaltado é que, em 1976, os Estados Unidos e a URSS assinaram uma convenção que proibia a utilização militar ou com qualquer outro fim hostil das técnicas de modificação ambiental. Esse tratado cita a manipulação de tsunamis, terremotos, tentativas de desestabilização do equilíbrio ambiental ou qualquer alteração climática ou atmosférica, como formação de ciclones, furacões, correntes oceânicas e outros. Ora cacete! Se em 1976 eles já detinham ou previam esse poder, como 35 anos depois eles não o teriam?
“Ora, mas isso é uma grande bobagem!” – Amigo, eu estou no mesmo grupo. Não posso ouvir falar na história dos Illuminati e seu suposto controle do mundo sem soltar aquelas risadinhas de canto de boca. Porém, repito, agora em tom esganiçado: E SE ESSA MERDA FOR VERDADE? Se o homem tem o poder de produzir terremotos e esse poder está nas mãos de quem quer controlar o planeta, quem será o primeiro a oferecer o braço a corte apostando na certeza da mentira?
Somos os coadjuvantes dessa história. Nosso papel é correr quando precisarmos e torcer para nada disso ser verdade. Até por isso, não defendo o ideal do medo, apenas o debate. Por que sentir medo de algo que, em palavras reais, segue o puro e simples: “Ok, fudeu”? Não sou herói e não estamos num filme americano, não somos capazes de editar o fim desse enredo, apenas assisti-lo e, se for pra morrer, que pelo menos não seja tendo passado os últimos anos com medo ou perdendo horas e horas questionando a existência ou não de um poder superior humano.
Por fim, deixo os dois vídeos indexados a coluna para que vocês também saiam por um segundo da cápsula do ceticismo e permitam-se a consideração da dúvida. Ah! E se por acaso vir uma aurora boreal por aí, lembre-se que os EUA querem nosso pré-sal e siga Tom Cruise: fuja para as colinas.

por:

Felipe Neto

 Post no site Brasil247

 

domingo, 24 de abril de 2011

Se as portas da percepção fossem limpas, tudo se apresentaria ao ser humano como é, infinito



- William Blake -

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Para onde ir...

Eu gosto de falar sobre medos. Os medos são, a meu ver, o alimento de toda a coragem - porque se não houvesse medos não haveria força que estimulasse a coragem para enfrentar. Eu tenho um único medo, já tive muitos mais foram se perdendo, um a um, conforme eu me ví diante deles e assimilei os sabores; azedos, amargos, agridoces, enebriantes, venenosos. Já tive medo de estar sozinho, mas um dia quando todos se foram, ainda que estivessem ao meu lado, entendi que estar sozinho é estar com sigo mesmo e então esse medo morreu. Tive medo de errar, por muito tempo, então vieram os primeiros grandes erros e, assim como uma àrvore cujos galhos crescem mais fortes depois de ser arrancados, minha alma cresceu e tomou conhecimento de si, então esse medo chegou ao seu fim. Por vezes tive medo de perder, o que quer que fosse, mas quando vi as perdas se sucederem, uma a uma, e percebi o vazio, enxerguei nele, não uma lacuna, mas, um espaço a ser preenchido por novos sonhos. Por fim, resta ainda um medo... O de esquecer, de me tornar igual. Sou um analista de olhares e sei que quando se olha nos olhos de alguém, que não tem a consciência de estar sendo observado, esses olhos mostram o interior o que a consciência da observação oculta - e então o que vejo são olhares vazios, opacos, que refletem o interior de pessoas que não sabem quem são, de onde vêm nem para onde vão.

terça-feira, 19 de abril de 2011

"Nascisdo para perder, viva para vencer".


- Lemmy Kilmister -

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Bolos e legumes

- Vô, o que é a "verdade"?
- A verdade é como um bolo bonito na vitrine daquela padaria, ou como um legume verde, amargo e gosmento.
O garoto franziu o cenho, quando imaginou a figura do legume viscoso e ao mesmo tempo, por não entender o que o almoço e a sobremesa tinham a ver com a pergunta que fizera. O avô sorriu cheio de sabedoria, embora, como fazem os reais sábios, não se vangloriasse dela - ele caminhou em direção à padaria e fez sinal para que o neto o seguisse.
- Vamos, toque no bolo.
- É de plástico! - impressionou-se o garoto.
- Algumas estórias, teorias e crenças, na vida, são como este bolo; por serem bonitas e convidativas, aparentemente, as pessoas às tomam como verdades incontestáveis e as defendem com a própria vida ou morte, se necessário, mas nunca se dão ao trabalho, ou arriscam tentar tocá-las para sentir a real consistência daquilo. Entende?
- Sim vovô. Tem gente que acha melhor imaginar um gosto doce que nunca chega na boca do que experimentar, ver que o gosto é uma droga e procurar um doce bom de verdade - discorreu o garoto.
- Ou fazer um! - completou o avô.
- Vovô, mas e sobre o legume gosmento?
 O avô sorriu, feliz, pela curiosidade do garoto sobre as coisas da vida.
- Algumas coisas na vida "filho", são como legumes verdes e viscosos - nós, quando não temos coragem e entendimento, recusamos experimentar esses legumes acabamos por nunca descobrir que eles, na realidade, nos fazem crescer, nos tornam fortes e saudáveis. Um doce que pode incapacitá-lo frequentemente é mais atraente que um amargo que alimenta sua vida.
- É por isso que a mamãe me faz comer giló toda semana! -  e fez uma careta.
- Sim. É por isso... É por isso...




- André Walker -

quinta-feira, 14 de abril de 2011


Oxidação da alma

De tempos em tempos é bom fazer uma leitura daquilo que se vê, de novo; e uma releitura daquilo que se vê frequentemente, sabe? No mundo, hoje, se você olhar para os lados vai, certamente, ver muitas pessoas mesquinhas, perversas, maldosas, frias, apodrecidas pelo tempo, entende? Vai ver pessoas e identificar atitudes, ainda que discretas, que vão te fazer pensar profundamente: "Por quê as pessoas são assim?" - E, no final, se for esperto você vai entender que existe todo um minuscioso quebra-cabeça que, remonta ao passado de cada um e, explica exatamente o que levou aquela pessoa a ser assim. O erro mais primordial do ser humano é se deixar endurecer pela dureza da vida; se deixar apodrecer pelo tempo; permitir a "oxidação" da própria alma. As pessoas se tornam deprimidas e deprimentes por escolha própria. No fim, eu vejo tudo como uma "compensação" - mil pessoas têm um comportamento apodrecido, mas sempre há uma que tem atitudes ou mesmo uma essência pela qual vale apena acreditar no gênero humano - é por essas pessoas que eu vivo.



- André Walker -

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sobre coxinhas envenenadas e passarinhos infernais.

Anteontem eu estava na minha sala no Clube Atllético Juventus quando senti algo passando por cima da minha cabeça - no momento seguinte olhei pra cima e vi que era um pássaro. A ave maldita começou a me atacar e bicar minha testa. Aí fui tentar acertar um tapa nela e caí da cadeira (isso tudo depois de ter sido envenenado pelas malditas coxinhas do bar do Chico). Depois de mais de dois minutos lutando contra o sabiá das trevas consegui afastá-lo, mas aí a ave maldita entrou no meu armário e cagou em cima dos meus relatórios, todos. Depois de horas no encalço do passarinho infernal eu desisti e a maldita ave dormiu na minha sala. No dia seguinte minha cadeira estava coberta de titica de passarinho e após mais duas horas de esforço consegui capturar a ave, mas a custa de minha sala destruída e todos os meus relatórios. A ave primeiro tentou me matar e depois estraçalhou minha sala...


- André Walker -

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sobre modelos, livros e desejos invertidos...

Essa semana me aconteceu a coisa mais absurda possível. Eu, sabe-se lá como, entrei no casting de uma agência de modelos. Eu nunca nem sequer me imaginei dentro de uma coisa dessas, ao passo que existem hordas de pessoas que arrancariam cabeças e ceifariam almas pra estar nesse negócio, enquanto eu sicneramente... Nem ligo.


Agora vejam só a ironia: Eu quero e sempre quis publicar um livro, participei de um concurso e perdi para contos de pessoas que, provavelmente, nem ligam para essa coisa de escrever. ou seja Parece que nós estamos sempre conseguindo as coisas que outras pessoas sonham ter e outras pessoas estão sempre conseguindo aquilo que nós sonhamos ter. No final, acho que, o segredo do sucesso é não ligar... Não dar importância, tudo aquilo para que você não dá importância vem com prodigiosa facilidade enquanto seus maiores desejos são dificilimos de conseguir.
Vai entender O.o

- André Walker -

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sobre pessoas escrotas, moda da semana e zonas de conforto...

Hello buddies!

Eu estava pensando hoje (quando acordei) sobre o assustador fato de a escrotidão estar na moda nos dias de hoje. Repare, uma porcentagem assustadoramente grande de tudo aquilo que faz sucesso nos dias de hoje - ou do que está em evidência provém de coisas ou pessoas escrotas (vide "quero não, posso não..." Aquele carinha escroto do sertanejo cujo nome eu juro que não me lembro, mas você certamente vai conseguir associar a "falta de nome" à pessoa. É um panaca que canta sobre amores juvenis e decepções amorosas que ele provavelmente nunca terá por ser rico, e escrotamente famosinho). E o pior, nós vivemos num tempo de "escrotidão transitória" ( sim eu gosto de dar nomes às coisas); a escrotidão transitória nos leva a um efeito chamado de "a moda da semana" já passamos por "Créus" "Popozudas" "Big Brothers" (Esse insiste em continuar... Holy Shit!) "Fazendas" "Rebolations" "Tiriricas" e "Minha mulher não deixa não". Em suma, o mais assustador disso é que as pessoas acham engraçado cultivar essas criações de imperfeição e alimentar a si próprias com lixo de todos os tipos e cultuar os criadores desse lixo. Por fim, eu acho que seus gostos refletem o seu interior, você não alimenta nada fora, que não exista também dentro de você. É uma espécie de zona de conforto na qual as pessoas simplesmente têm preguiça de buscar algo mais "edificante" para suas mentes lezadas... Alguns dizem que o mundo acabará em àguas, outros dizem que acabará em chamas... Eu digo que o mundo acabará em "Créu".


- André Walker -

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Mais uma derrota acachapante...

Hello buddies!
Esse é outro texto com o qual eu concorri num concurso de uma editora. Eram sete categorias, cada uma correspondente a um dos sete pecados capitais. Concorri em três categorias, já  fui eliminado em duas; agora resta esperar a terceira, mas acho que também não levo, mas de qualquer forma, parabéns aos 15 escritssro vencedores nessa categoria...

(não reparem em enventuais letras fora de lugar, essa é a versão sem correções.)



http://editora.estronho.com.br/index.php/noticias-e-notas/288-selfinalluxuria


Do alto da montanha os dois observavam o pequeno vilarejo e as pessoas que caminhavam pelas ruas, de paralelepípedo, margeadas por belas casas feitas de madeira e mármore. Algumas crianças brincavam enquanto outras corriam de um lado a outro da pequena ponte que cruzava o riacho. Os adultos jogavam cartas, e riam alto, tomando longos goles de uma bebida que enchia suas grandes canecas.
- Você vê como se divertem Maiel? – disse encantado, um dos anjos, no alto da montanha.
- Sim Kai. Eu vejo. E com coisas simples eles se divertem. E as coisas simples os alegram. Porém ao mesmo tempo as coisas mais simples os fazem infelizes e as coisas mais simples podem destruí-los.
- Maiel... Por que você os teme tanto? Não estamos aqui para protegê-los?
- Sim. Estamos, mas me responda Kai: Quem nos pode proteger deles?
Fez-se silêncio por um longo instante. Kai se calou. Era impossível para ele compreender como seres frágeis, mortais, poderiam oferecer algum risco à glória e perfeição dos anjos. Maiel compreendendo a inquietação de Kai pousou uma das mãos sobre seu ombro e disse:
- Alguns de nós já fomos destruídos por atrelar nossos caminhos aos dos humanos.
- E como foi isso Maiel? Não é verdade que apenas a força de um anjo pode destruir outro anjo? – disse Kai confuso – e é claro... Os demônios.
- É verdade Kai, a força física dos humanos, ou qualquer outra arte que possuam, jamais poderia destruir um de nós, mas na criatura humana residem outras forças mais poderosas do que a fúria dos anjos – o tom de Maiel era urgente e misterioso.
- Não sei se compreendi... Como exatamente os outros foram destruídos por humanos? – perguntou Kai.
- Isso eu não posso dizer. E seria sábio de sua parte não tentar descobrir – Maiel agora pousava as duas mãos nos ombros de Kai e seu olhar era admonitório e severo – A imprudência a tudo destrói.
Durante algum tempo Kai temeu descer sozinho a terra e estava sempre acompanhado por outro anjo ou por uma falange. Porém o revérbero das palavras de Maiel não deixara sua mente. E a idéia de descobrir o “poder oculto” dos humanos capaz de destruir até mesmo um anjo, que Maiel citara, resvalava nos cantos de sua mente sem cessar.
Um dia Kai resolvera desconsiderar as recomendações de Maiel. Ele desceu a terra junto de uma grande falange e desviou-se do caminho. Por algum motivo resolvera voltar àquela pequena cidade aos pés da montanha. Kai desceu ao mesmo ponto onde costumava parar com Maiel. Por um longo instante deliberou e finalmente, vencendo seus receios e deixando de lado, também, os conselhos de Maiel, Kai seguiu até a pequena cidade. Assim que chegou à rua principal pode perceber que muitos o observavam e por um momento pensou que alguém poderia ter desconfiado de sua real natureza. Mas depois se acalmou já que ele sabia que suas asas não eram visíveis aos olhos dos homens e eles provavelmente o observavam por ser um forasteiro. Ele caminhava lentamente. Cada passo era uma nova descoberta ele admirava as belas casinhas de madeira e mármore assim como às esculturas e até mesmo as roupas que os humanos trajavam. Então ele parou. Resolvera tentar algo mais arriscado ele sabia que dentre os inúmeros poderes dos anjos estava à habilidade de sentir como um humano. Ele fechou os olhos e cerrou os punhos. Deixou que o ar tomasse as narinas de seu corpo provisoriamente humano. Embora aquela não fosse sua verdadeira forma ele podia fazer uso de todos os sentidos daquele corpo. Nos passos seguintes ele sentiu o toque de seus pés descalços na grama fofa, o ar inflando seus pulmões novíssimos e o sangue quente correndo por cada uma de suas veias. Naquele momento tudo era sentir e nada era pensar. Até que, quase como uma ode aos seus novos sentidos, uma imagem tomara conta de sua visão. E ele não pode mais desviar seus olhos do que via. Ela caminhava em direção a Kai, mesmo sem vê-lo, como se fossem se chocar. Seus passos mantinham um ritmo perfeito
enquanto uma leve brisa levantava seus cabelos alaranjados e fazia as rendas de seu vestido farfalhar. Naquele instante o anjo tentou sem sucesso explicar a si mesmo o que era a sensação que lhe assaltara, de súbito. Ele já vestira-se na roupa humana por muitas vezes, mas nunca no entanto sentira tais emoções e sentidos fluírem por cada fibra de seu corpo. Kai apurou a visão e olhou para os olhos cor-de-mel, da garota, que lhe faziam lembrar o fogo. Quase no mesmo instante a brisa vinda das montanhas conduziu até ele o perfume acre e cítrico da garota. E de maneira insólita se criou uma sede que Kai também não soubera explicar nem definir para si mesmo. Por um instante pensou em retornar as alturas e contar, a Maiel o que sentira, mas logo abandonou a idéia concluindo que o outro anjo jamais o entenderia. Num átimo, que na mente de Kai pareceu durar décadas a fio, a garota passou por ele que nada conseguiu fazer. Tivera vontade de falar, mas não sabia quais palavras usar e nem se era, de fato, certo dizer algo. Então num rompante de ímpeto e desejo o anjo a seguiu pelas ruas estreitas e aconchegantes do vilarejo ao pé da montanha. Repetidamente Kai podia sentir uma espécie de corrente elétrica percorrer seu corpo e a “voltagem” era amplificada a cada vez que o vento levava o perfume da garota até suas narinas humanas. A garota caminhava agora, mais lentamente, observando os detalhes da paisagem ao seu redor, que embora mais que conhecidos a seus olhos pareciam lhe chamar a atenção. Kai a seguia de perto e se sobressaltava a cada vez que a garota fazia menção de olhar para trás. Ele tropeçou numa banca de frutas, numa de suas tentativas desastradas de se esconder dos olhares da jovem, fazendo com que as laranjas rolassem rua abaixo. Já um pouco ao longe ele pôde ouvir o velho senhor dono da mercearia citando todo tipo de palavrão e maledicência.
Após quase dez minutos caminhando pelo vilarejo a garota finalmente seguiu por uma ruazinha de paralelepípedos que terminava num belo chalé cujo jardim era repleto de acácias e rosas vermelhas, e brancas. Kai se esgueirou para trás de uma árvore junto a uma das janelas. Ignoto, ele observou a garota que entrou no chalé fechando a porta atrás de si. Agora ele poderia se movimentar livremente em volta do lugar. Ele percorrera duas janelas e em nenhuma delas encontrou a garota. Insatisfeito ele buscou por mais uma janela e lá pôde ver a jovem, de cabelos alaranjados, em seu quarto. Seu coração, então humano,
acelerou o número de batidas e uma gota fria, de suor, deslizou solitária por seu rosto. Num movimento leve a garota puxou uma das alças do vestido e depois a outra. Lentamente o vestido caíra ao chão revelando as costas nuas. Kai percebera que o vestido era sua única veste e as batidas de seu coração se intensificaram ao ponto de tornarem-se audíveis. Num sobressalto inesperado o anjo bateu um dos joelhos contra a parede, de madeira, do chalé fazendo um ruído seco. A jovem virou-se num salto e olhou para a janela aberta, mas o anjo não estava mais lá. Usara seus poderes para desaparecer um milésimo de segundo antes que a garota olhasse e voltou a aparecer atrás de uma grande árvore algumas dezenas de metros distante do chalé.
- Olá meu caro – disse uma voz baixa e perigosamente convidativa que faria o coração de Kai saltar pela boca se ele ainda estivesse se deixando sentir como um humano – Eu sei o que você quer e posso dá-la a você – concluiu o belo homem de barba por fazer e, sobretudo cinzento.
- Do que você está falando? – tentou disfarçar Kai.
O homem sorriu maliciosamente e apoiou as mãos nos ombros de Kai.
- Eu posso ver o que você sente. Posso enxergar por dentro dos seus desejos ainda que você mesmo não os entenda.
- Não há nada para entender – disse o anjo acuado por seus próprios pensamentos – E quem é você?
- Sou apenas alguém que pode ajudá-lo a satisfazer suas vontades.
- E como pretende fazer isso? – respondeu o anjo. No íntimo ele realmente queria saber o que o homem misterioso poderia fazer por ele, embora seu tom fosse aparentemente despretensioso.
- Eu posso ver sensações passando por sua mente. E... Eu sei quem você é. Você não pode esconder suas asas de mim – o homem sorriu novamente e coçou o próprio queixo – No entanto sei que mesmo vindo de cima você está agora sob o efeito de algo bastante terreno. Nesse ponto vocês lá de cima não são tão diferentes dos homens, eu sei que você voltará aqui. Sei que tentará descobrir o que aquela bela jovem pode oferecer á você.
Ainda sob a aparência humana que readotara assim que o homem apareceu Kai sentiu novamente seu coração bater acelerado. E as palavras envolventes do desconhecido o anjo cedeu firmando com ele um acordo baseado em poucas palavras e um único desejo.
- Se eu aceitar o que você vai querer em troca? Eu sei que tudo tem um preço para pessoas como você – o anjo agora deixou que um pouco de sua aparência original viesse à tona.
- Dê você eu não desejo nada. Sou um agente do caos. Gosto apenas de ver até onde as coisas podem ir e dou um empurrãozinho para que tudo aconteça. E eu repito de você eu não desejo nada – embora aquele fosse obviamente o último dos seres em que se pudesse confiar os anjos tinham o dom de ver a verdade através das palavras e por incrível que lhe parecesse Kai enxergou a verdade nas palavras do desconhecido e isso o impeliu a aceitar a proposta.
- Eu aceito. O que exatamente você pode fazer por mim?
- Irei “direcionar” as coisas. Desça até essa cidade ao pôr-do-sol na próxima sexta feira e vá até a mercearia, sua jovem estará lá. Depois disso as coisas se encaminharão naturalmente – e a essas palavras o ser desintegrou-se no ar, como fumaça e vapor, soprado pelo vento e o anjo não pôde mais saber para onde fora.
Nos dias seguintes, durante suas descidas a terra com Maiel e outros anjos, Kai pareceu inquieto e desligado o que intrigou a Maiel, mas este não entendera o motivo das inquietações de Kai. Um a um os dias se passaram. A visão de tempo dos anjos era diferente já que eles caminhariam pela terra era após era até o crepúsculo do tempo. Mas para Kai aqueles seis dias arrastaram-se lentos como séculos. Até que o dia chegou. Kai desceu até a pequena cidade ao pé da montanha e foi caminhando até a velha mercearia onde derrubara as maçãs e laranjas dias atrás. O velho dono do lugar ainda o encarou com um olhar atravessado. Kai fingiu estar procurando pro alguma fruta em especial enquanto, na verdade, olhava ao redor da loja em busca da garota. Perto do balcão de madeira estava a garota, que apanhava alguns cachos de uva de uma das gôndolas. Ela estava de costas, mas Kai reconhecera seus cabelos alaranjados contrastando com sua pele branca. Kai andou na direção da moça ainda sem saber o que fazer. Estendeu uma das mãos para tocá-la, ainda sem saber se era isso o que devia fazer. A moça então virou-se para erguer seu cesto de frutas e seu cotovelo acertou em cheio o nariz de Kai. Pela primeira vez ele sentira dor. A sensação cálida do sangue escorrendo por seu rosto o fez rir. Ele passou o dedo pelo sangue e olhou maravilhado para o líquido vermelho que manchara a ponta de seu dedo.
- Meu Deus! Olha todo esse sangue. Venha... Venha comigo para eu dar uma olhada nisso – disse a garota com sua rouca e musical. Ela pegou Kai pelo braço e o guiou pelas ruas estreitas do vilarejo.
- Vamos. Entre... Pode se sentar – disse a garota indicando o sofá.
Kai sentou-se. Agora o sorriso em seu rosto era ainda mais largo. Ele olhava com atenção para os quadros nas paredes. Depois seus olhos correram até o piano no fundo da sala e de lá até a lareira feita de pedra. A garota foi até a cozinha e apanhou um pote de gelo e um pano.
- Vamos ver como está isso. Hum... Está um pouco inchado! – Ela se aproximou até seu rosto ficar a poucos centímetros do rosto de Kai. Ele sentiu o calor correr por cada fibra de seu corpo e os pelos de seus braços se eriçaram ao toque da garota. Ela encostou o gelo, envolvido pelo pano, no nariz de Kai que se sentiu aliviado da dor, embora ainda sentisse certo torpor devido a pancada que levara.
- Já nos conhecemos há quase uma hora e você ainda não me disse o seu nome – disse a garota sorrindo.
- Kai. Meu nome é Kai.
- De onde você é?
- Venho... Das terras de cima! – disse ele com um “sorriso amarelo”.
- Manchester?
- Por aí! – mentiu – E você como se chama?
- Sou Anna. Anna Bruckmaster. É um prazer conhece-lo. Muito embora eu quase tenha quebrado seu nariz!
- Acontece nas melhores famílias – brincou Kai. Anna riu alto e ele se sentiu aliviado já que não estava acostumado a fazer piadas nem nada que os humanos fizessem.
- Mas, me diga Kai. O que você faz aqui em Mercy Falls?
- Trabalho – ele disse a primeira palavra que veio à sua mente. Seu estoque de respostas rápidas estava se esgotando.
- Hum... E com o que você trabalha?
- Trabalho no ramo de... Proteção. Isso! Trabalho com proteção.
- Você é da polícia? Meu Deus! Eu nocauteei um policial – ela arregalou os olhos.
- Na realidade eu sou de um... Exército.
- Pior ainda! Nocauteei um soldado – agora ela sorria.
Kai, embora isso não fizesse grande diferença, tentava dar respostas que não fugissem muito da verdade. Ele “trabalhava” realmente protegendo as pessoas. E os anjos de fato eram soldados.
- E você? O que faz?
- Pinto quadros e escrevo. Vendo os quadros para lojas e galerias nas cidades grandes. Londres... Liverpool. E tenho três livros publicados. Isso rende alguma coisa, mas eu gosto de viver em cidades pequenas isso inspira minhas idéias pras pinturas e estórias que escrevo.
- Fascinante.
- Obrigado?
- Fascinante! Obrigado – garota gostara de algo em Kai que ela também não soubera explicar a si mesma. Ela retirou o pano com gelo do rosto de Kai e deu mais uma olhada para ver se havia mais algum dano ou ferimento.
- Olha só, está um pouco roxo aqui – seu rosto estava perigosamente próximo do rosto de Kai. Sem pensar se aproximaram. Seus lábios se tocaram e quase que instintivamente ele soube o que fazer e Anna moldara seus lábios aos dele. O coração humano de Kai estava a ponto de explodir tamanha a velocidade com que batia e ele sentiu seu corpo se aquecer numa torrente de emoção e desejo. Ele pôs uma das mãos na nuca da jovem e o beijo se tornou mais urgente e cálido.
- Nossa! – disse ela – você tem... Inspiração!
- Nem mesmo eu sei como isso aconteceu – respondeu Kai.
Os dois riram alto.
- Eu devo ser mesmo maluca... Beijar um cara que nem mesmo conheço.
- Quebrar meu nariz é um bom começo – respondeu ele.
Ela sorriu e segurou seu rosto para beijá-lo novamente.
Nos dias que se seguiram Kai voltou a descer até Mercy Falls e encontrar Anna. Já que os beijos que ela lhe dava sempre que se viam já não pareciam suficientes para acalmar a febre constante de Kai desde quando a vira caminhando pelas ruas da pequena cidade um mês atrás. Numa tarde de outono Kai e Anna estavam na cozinha. A garota fazia um bolo que o anjo aguardava ansiosamente já que se acostumara a comer enquanto estava na forma humana.
Uma gota da massa do bolo que Anna fazia voou em seu pescoço e Kai que estava perto dela aproximou-se e lambeu a pequena gota de chocolate. Naquele momento Kai sentiu algo estranho na atmosfera do lugar como se algum tipo de feitiço houvesse sido lançado no ar. Anna segurou o rosto de Kai e o beijou. Ele percebera que o beijo havia sido diferente dos outros que ela costumava lhe dar e pôde sentir um perfume doce e quase entorpecente vindo da pela da garota. Ela, por sua vez, sentira algo parecido vindo de Kai um magnetismo incontrolável e lascivo. Era como se os dois estivessem agindo sob a influência de uma força desconhecida ainda que quisessem provavelmente não poderiam se conter. Os olhos de Anna pareciam diferentes, perversos, de certa forma e maliciosos. Kai notara a diferença, mas era impossível controlar o desejo que explodia dentro dele. A garota abriu a camisa de Kai e beijou seu peito e ele, por sua vez segurou o rosto de Anna e ainda entre beijos flamejantes eles caminharam até a sala. Anna empurrou Kai sobre o sofá. O anjo sentia seu rosto esquentar e os pelos de seus braços se eriçarem. Aos poucos ele viu as peças da roupa de Anna se esvaindo e seu desejo aumentando conforme os movimentos de ambos se tornavam cada vez mais incontroláveis...
No dia seguinte o anjo desceu até Mercy Falls, dessa vez, sedento por algo além da luxúria que o dominara nos últimos dias. Agora havia algo diferente que resvalava nos cantos de sua mente. Kai percebera que amava Anna.
Naquela tarde o anjo resolvera andar um pouco pela cidade e sentir um pouco mais das sensações humanas que tanto gostava. Foi até a mercearia onde conhecera Anna e furtou um cacho de uvas usando seus poderes de anjo. Depois caminhou pelas estreitas ruas da cidade admirando as antigas construções até chegar à extremidade sul de Mercy Falls onde ficava o chalé de Anna. Ao longe, encostado numa das árvores que cercavam o chalé de Anna, estava o homem que propusera o acordo à Kai um mês antes. Um vento gélido soprou e Kai teve um sobressalto. A atmosfera pareceu acinzentar-se e as folhas das árvores caiam amareladas à brisa fria que soprava de todos os lados. Como uma poeira negra no ar surgiu o homem envolto por uma luz negra que emanava de suas vestes cinzentas. Era o mesmo homem que oferecera o acordo ao anjo um mês atrás. Kai sentiu-se humanos da forma
mais assustadora possível, quando o gelo tomou seu estômago ao ver a imagem do homem de roupas cinzentas.
- Ontem às quinze horas e vinte e três minutos, pela contagem dos humanos, você conseguiu o que queria. Satisfez sua vontade e eis que agora estou aqui para receber minha parte no acordo – disse o ser agora com uma voz fria e cortante, diferente do tom convidativo que usara um mês antes.
- Mas você disse que não queria nada de mim – disse o anjo num sussurro.
- E eu disse a verdade. É a vida dela que levarei – o sorriso hediondo do ser foi como um soco no estômago de Kai que agora podia ver os olhos negros do homem.
- Você é um demônio... Eu sei que você é um demônio, mas não me diga que...
- Não sou um daqueles inúteis que apenas causam simples tumultos e deserdem. Eu sou um agente do caos. E é esse caos que vejo em seus olhos. Esse é meu alimento.
- Você... Não pode mata-la – disse Kai. Os olhos saltavam das órbitas conforme as lagrimas salgadas escorriam pelo rosto do anjo.
- Posso. Ou melhor. Nós podemos. Meus camaradas estão lá dentro prontos para executar o sacrifício. Aliás, sua “namorada” fica linda com aquela expressão de horror – gargalhou o demônio.
Outros doze demônios saíram pela porta do chalé e Kai os observou aterrado com sua visão. As folhas agora caiam negras, das árvores e o céu acinzentou-se sobre o solo coberto pelas folhas negras. Os doze demônios com suas vestes e capas negras marchavam na direção de Kai empunhando suas espadas e cimitarras numa formação de ataque. Kai sabia dos riscos de se deixar guiar por sua luxúria, mas jamais imaginara que aquele era um demônio tão poderoso. O portador e a essência do próprio pecado. Agora ele teria que fazer algo para evitar o amargo fim.
- Eu vou... No lugar dela. Podem ficar com a minha vida – disse o anjo.
E quando o véu da morte caia sobre Kai algo aconteceu. Sete feixes de luz surgiram em meio ao negrume daquela tarde. Sete anjos se ergueram em meio às trevas erguendo suas espadas e brandindo contra os demônios. Kai, por sua vez, correu para o chalé para resgatar Anna. A garota já saia porta afora e então o anjo correu em sua direção para levá-la a um lugar seguro enquanto anjos e demônios travavam uma batalha em meio às árvores secas, sobre o
solo enegrecido pelas folhas. Mas quando a salvação de seu amor parecia próxima caiu sobre Kai à fúria do destino. Quando os braços de Anna se estendiam para entrelaçarem-se aos seus o anjo, como num pesadelo, viu a flecha disparada por um dos demônios rasgando o ar frio e passando diante de seus olhos até atingir o peito de Anna. O tempo pareceu desacelerar, para Kai, nas sombras daquela tarde enquanto Anna caia em câmera lenta e ele a amparava em seus braços. E lá, no fim de todas as coisas, ele revelou suas asas.
- Você... É... Um anjo...? – disse a garota num tom quase inaudível.
- Não sei mais o que sou.
- Você só podia ser um anjo... Só podia ser um anjo mesmo – ela sorriu.
As lágrimas congeladas do anjo caíram sobre o rosto de Anna.
- Espero que possamos nos encontrar do outro lado – e a essas palavras a luz deixou seus olhos e a eternidade a envolveu naquela tarde fria e cinza de outono. Kai a colocou cuidadosamente sobre o solo. A pele branca contrastava com o negrume das folhas. Numa beleza sombria e solitária. O anjo ainda com lágrimas nos olhos correu até o atacante de Anna e ergueu sua mão direita onde surgiu sua espada de luz com a qual feriu mortalmente o demônio, embora não tão mortalmente quanto fora ferido.
Um a um os demônios sucumbiram à fúria dos anjos. E Kai sucumbiu à fúria de seu próprio destino. Por seu pecado, foi condenado a perder suas asas e viver uma vida mortal, sem nunca poder retornar aos céus. No jardim de Anna, para todo o sempre as folhas permaneceram, negras, espalhadas pelo solo. E frio permaneceu o ar. Até o último de seus dias Kai viveu no chalé de madeira e mármore onde por um curto espaço de tempo viveu com seu amor. Sobre o túmulo de Anna, Kai, em cada aniversário de sua morte colocava rosas vermelhas sobre o túmulo branco e sempre as flores tornavam-se negras. E lá, após uma longa e solitária vida humana, sua jornada pela Terra teve fim, quando a luz deixou seus olhos e ele pôde seguir sua amada em algum lugar além das folhas negras.



- André Walker -